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reabilitação tecnologia e carros

Em 11/08/11 22:38.

uma inclusão

 

Reabilitação, Tecnologia e Carros



A feira acontece no Centro de Exposições Imigrantes, mas o movimento começa um quilômetro e pouco antes, no Terminal Rodoviário Jabaquara. As plataformas estão tão abarrotadas de gente que do fim da fila não se enxerga o ponto de embarque. Nas ruas, pessoas que dificilmente se veem transitando pelas vias acidentadas do bairro estão à espera da van que faz o transporte gratuito do Terminal até a 10ª Feira Internacional de Tecnologia em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade. Na Feira se repete a lotação vista nas plataformas, mas de uma multidão ainda mais diversa: muitos deficientes auditivos têm conversas animadas sem emitir som algum, a quadra é dominada pelos cadeirantes do basquete, o apresentador no palco é paraplégico e todo artista que se apresenta tem algum tipo de deficiência - sem deixar que isso diminua em nada a beleza das performances.

Três meninas cadeirantes posam em volta do novo automóvel acessível lançado pela Chevrolet
Stand da Chevrolet na Reatech

Nos stands, o centro das atenções são os carros adaptados. Este ano, a feira reservou um espaço especial para as grandes montadoras exporem os veículos automatizados com tecnologia assistiva: uma grande passarela destinada ao test-drive dos mesmos, confirmando uma tendência que a Reatech adotou ao longo de suas edições. “A Reatech vem perdendo um pouco a característica dela de ser uma feira acessível para todos, né, essa é a terceira vez que eu venho aqui e cada vez mais só tem stands com os carrões das grandes empresas, isso não acessível financeiramente, quer dizer, a acessibilidade também tem um custo, não é verdade?” diz Sônia Rideo, professora e frequentadora da feira.

Longe da exuberância dos automóveis, a Rede SACI encontrou várias iniciativas legais, como o curso de línguas e informática para deficientes visuais da Open Door* e o curso de móveis infantis adaptados em pvc* de Grace Gasparini, ambos gratuitos. Grace dá aula de terapia ocupacional desde 2005, e agora ensina quem se interessar a fazer móveis para crianças deficientes a partir de canos de pvc. O custo final é cerca de três vezes menor do que se você fosse comprar na loja. O curso dura 2 dias, os alunos se dividem em 8 equipes e cada uma aprende algum tipo de móvel. Sempre há crianças voluntárias para a confecção dos aparelhos sob medida, no final o que é produzido é doado a essas crianças, de casas de caridade.

Além disso, as iniciativas promovidas pela Fundação Dorina Nowill merecem destaque: foi lançada na feira, pela Fundação, a Semana do Olfato, iniciativa que visa incluir pessoas com deficiência visual no mercado da perfumaria, afim de aproveitar a sensibilidade olfativa das pessoas com esse tipo de deficiência na produção e inspeção de aromas e fragrâncias. É uma carreira promissora cujo principal nicho profissional pode ser os deficientes visuais.

A Revista Sentidos também aproveitou o espaço da feira para marcar mudanças: o site deles foi reformulado, visando atender melhor o público deficiente e tornar as informações mais acessíveis e fáceis de serem encontradas. No stand da Sentidos encontrava-se um mural de acrílico onde cada visitante poderia deixar uma mensagem - uma bela maneira de ouvir a opinião do público.

E por falar em público, a Reatech conta sempre com perfis variados de visitantes. A assessoria da feira aponta jornalistas, pedagogos, assistentes sociais e pessoas com deficiência como os principais frequentadores, mas há sempre quem vem por curiosidade ou em busca de ideias. É o caso de Laura Resende, estudante de Design da PUC/Rio que veio até São Paulo só para conhecer o que há de novo nesse mercado.“É a primeira vez que a gente vem aqui, estamos buscando ideias para o nosso TCC. A gente quer trabalhar com coisas que envolvam acessibilidade, tipo alternativas mais funcionais” comenta ela.

Artes e esporte

No meio um jogador de basquete em cadeira de rodas faz mira para lançar a bola, ao fundo a plateia e o time assistem ao lance com olhares de espectativa
Atleta se prepara para lançar a bola

Além das novidades em tecnologia, a Reatech reservou espaço para o esporte e para a cultura. A Escola de esporte adaptado (ADD), que trabalha com crianças de 8 a 18 anos, ofereceu aula de iniciação ao esporte para crianças. Edclei da Silva, 10 anos, treina basquete pela ADD há seis anos, é cadeirante e através da escola participa de eventos como a corridas no Ibirapuera, conta que seu sonho é se tornar jogador de basquete. Além disso, a escola foi responsável pela quadra poliesportiva da Feira.

Da parte artística houve desde ballet de crianças cegas a desfile de modelos. Eduardo, conhecido como “Dudé” tem má formação congênita, que o fez nascer sem os dois braços. Dudé é vocalista da Dudé Band, que se apresentou na Reatech tocando clássicos do rock. O cantor é formado em canto popular e diz que sua deficiência não cria entraves para seu trabalho. “No mercado de shows não vejo preconceito nenhum (...) Muitas das vezes é questão de postura.”

Ao centro, o cantor que não tem os braços, ao fundo e à direita, um homem beija uma cadeirante
O vocalista Dudé

Dudé diz que “as pessoas normalmente não demonstram preconceito nenhum desde que você trabalhe bem”. Para relizar as tarefas mais corriqueiras, dá-se um jeito: para escrever, a boca, para cumprimentar o repórter, o antebraço já é mais que suficiente.

 

 

 

Fonte: www.saci.org.br